Mestrado e Doutorado em Computação vale a pena?

Responda a seguinte pergunta: O que você vai fazer quando terminar sua graduação em computação?

Você pode dar vários tipos de respostas a essa pergunta. Você pode abrir uma empresa, talvez já até tenha aberto, pode trabalhar na indústria como engenheiro de software ou em qualquer outra área que envolva tecnologia da computação ou não. Ou então você pode optar pela carreira acadêmica e continuar estudando em um mestrado e posteriormente um doutorado.

Obviamente, esse tipo de escolha deve levar em consideração diversos fatores, e o primeiro dos que considero mais importante dentre eles é com certeza a sua afinidade. Se você gosta de programar, já trabalha com isso, e é bem afinado com o ambiente de uma fábrica de software, ou então acha que consegue se dar bem, ou já se dá bem, como freelancer na área de desenvolvimento, o natural é que você seja realmente um desenvolvedor no futuro, o que também não impede que você faça uma pós-graduação. Mas se você gosta de pesquisa científica, se deu bem em monitorias durante a graduação e quer continuar inserido no ambiente acadêmico, a melhor opção é fazer uma pós graduação, seja no nível de especialização ou no nível de mestrado e doutorado.

Um segundo fator importante é a conveniência. O que é mais conveniente para você, para sua eventual família, e para seus compromissos? Se você já trabalha com desenvolvimento, está bem engajado em uma empresa, ou está se dando bem como freelancer, talvez por conveniência você continuará nesse ramo. Além disso, deve ser levado em conta que nem todas as universidades contam com programas de pós-graduação a nível de mestrado e/ou doutorado, o que significa que seguir esse caminho talvez implique em uma mudança de cidade, de estado ou até de país. Você deve pesar o que é mais conveniente. É claro que a afinidade pode anular a conveniência, principalmente se você for uma pessoa que gosta de desafios e de conhecer novos horizontes, novas pessoas, e ter novas oportunidades

Mas enfim, vale a pena?

Atualmente estou no segundo ano do mestrado em ciências da computação no Centro de Informática (CIn) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), um centro respeitado nacional e internacionalmente, que é o berço de diversas iniciativas e empresas, como o C.E.S.A.R e o Porto Digital do Recife, que conta com mais de 200 empresas de tecnologia atualmente. Empresas como Apple, Microsoft, Samsumg e Motorola tem convenio com o CIn e contam com unidades dentro do centro, com alunos de pós-graduação desenvolvendo pesquisas lá dentro. Frequentemente acontecem eventos de recrutamento ou palestras de empresas como Facebook e Google. Enfim, o CIn oferece muitas oportunidades para seus alunos.

Mas nem sempre o sol brilha e nem tudo são flores. No mestrado você tem que cursar disciplinas, que geralmente exigem muito, escrever artigos, escrever relatórios, participar de eventos, e ler, ler muito e na maioria das vezes em inglês. Se você der sorte e conseguir uma bolsa, que são geralmente oferecidas por órgãos como a CAPES, CNPQ ou FACEPE, você muito provavelmente estará ganhando bem menos que a maioria dos seus colegas de graduação, pois os valores atuais das bolsas são de R$ 1500,00 e R$ 2200,00 para mestrado e doutorado respectivamente. Lembrando que mestrados duram 2 anos, e doutorados 4 anos, ambos podendo ser estendidos por mais um semestre, dependendo do regimento do programa. E lembrando também que a maioria dessas bolsas requerem dedicação exclusiva, e não permitem que você trabalhe, pelo menos não com carteira assinada (CLT). Então se você precisar complementar a renda – o que muito provavelmente vai acontecer, dado os baixos valores das bolsas – você vai ter que se virar na informalidade ou com contratos como Pessoa Jurídica (CNPJ).

Outra coisa importantíssima que você precisa saber antes de se decidir em seguir essa vida, é que alunos de pós-graduação são bastante expostos a pressão, o que pode causar problemas psicológicos como ansiedade, estresse, crises, e até mesmo depressão. Deixo aqui alguns artigos e matérias que valem a pena serem lidos pra te ajudar na decisão:

4 em cada 10 alunos de pós-graduação têm depressão ou ansiedade – Observatório do Terceiro Setor.

Depressão na pós-graduação: é preciso falar sobre isso – ANPG

A taxa de depressão entre estudantes da pós-graduação, segundo esta pesquisa – NEXO

Estudantes de mestrado e doutorado relatam suas dores na pós-graduação – Folha de São Paulo

Depois de tudo

Depois do mestrado você pode escolher se vai fazer doutorado ou não. O seu diploma lhe dará vantagem competitiva para concorrer a vagas tanto na indústria e no comércio, como na academia, seja no setor público ou no privado. Os IFs (Institutos Federais de Ciência e Tecnologia) geralmente dão oportunidades para mestres atuarem como professores, com seleção por concurso público. Universidades particulares também são alternativas. Em universidades públicas, nas federais principalmente, as oportunidades para mestres são menores, mas existem.

Se você optar por fazer doutorado e concluir, oportunidades também surgirão no setor público ou no privado com salários que podem variar de R$ 6 mil a R$ 15 mil por mês na academia. Recentemente a Universidade Federal do Rio Grande do Norte publicou edital de seleção de professores adjuntos para a área de computação com remuneração inicial (incluindo auxílio alimentação e retribuição por titulação) de R$ 10.043,67. No Brasil, infelizmente, a iniciativa privada não investe tanto em pesquisa fora das universidades, então é mais provável que você trabalhe como pesquisador e/ou professor em uma instituição de ensino, seja pública ou privada.

É claro que tudo depende do seu esforço, da sua coragem, do seu jogo de cintura e da sua saúde mental e física.

Concluindo

Talvez ainda seja cedo para que eu diga que vale a pena, mas de tudo que passei até aqui, sendo que tive que me mudar do interior do Ceará para a capital do Pernambuco com minha família, de nada me arrependo. Até aqui tem valido a pena, os contatos que se faz dentro da universidade, o aprendizado, os recursos disponíveis (dependendo da universidade talvez não sejam tantos), e principalmente, você perceber que a sua pesquisa e o seu trabalho vai fazer diferença na vida de alguém ou de um grupo (que é quem paga sua bolsa), isso tudo faz valer a pena pra mim. Conversando com colegas que já estão no doutorado ou com professores e ex-professores que já passaram por tudo isso, percebo que também vale a pena. Mas é claro que isso depende de cada um, uns fazem só pelos salários, outros por amor à ciência ou à educação, outros pelo desejo de ascender na vida financeiramente e/ou intelectualmente, e ainda outros por simples loucura e só descobrem onde amarraram o burrinho, depois que o barco saiu.


Jayr Alencar

Doutorando em Ciências da Computação no Centro de Informática da Universidade Federal do Pernambuco (CIn - UFPE); Mestre pela mesma instituição; Formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas; Católico; Fã de O Senhor do Anéis.

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